Resposta :
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Trazia um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorriam todas as águas do céu. À frente caminhavam os porcos, de cabeça baixa, rasando o chão com o focinho. O homem que assim se aproximava, vago entre as cordas de chuva, era o meu avô. Vinha cansado, o velho. Arrastava consigo setenta anos de vida difícil, de privações, de ignorância. E no entanto foi um homem sábio , calado, que só abria a boca para dizer o indispensável. Falava tão pouco que todos nos calávamos para o ouvir quando no rosto se lhe acendia algo como uma luz de aviso. Tinha uma maneira estranha de olhar para longe, mesmo que esse longe fosse apenas a parede que tinha na frente. A sua cara parecia ter sido talhada a enxó, fixa , mas expressiva, e os olhos , pequenos e agudos , brilhavam de vez em quando como se alguma coisa em que estivesse a pensar tivesse sido definitivamente compreendida. Foi um homem como tantos outros nesta terra, neste mundo, talvez um Einstein esmagado sob uma montanha de impossíveis, um filósofo, um grande escritor analfabeto.
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